Apresentação de artigo finalizado

por: Carolina Salles Carvalho

Tive a oportunidade de apresentar a minha pesquisa teórica para e equipe de jornalismo científico, dessa vez compartilhando o resultado final do artigo já submetido em periódico científico. Além de um panorama inicial sobre a ferramenta da roleta interseccional proposta por Carrera para a compreensão de objetos comunicacionais, me aprofundei na análise empírica do podcast da Rádio Batente.

Dentre os tópicos que abordei, cito, brevemente, o uso da estrutura da “jornada do herói” que colocou em primeiro plano um paradoxo entre a adoção de uma trajetória mítica individualizada por meio dos personagens centrais de cada episódio e a representação coletiva dos profissionais ali apresentados. Também abordei como a pandemia da COVID-19 apareceu nos episódios por meio da alteração na rotina de trabalho dos personagens retratados, permitindo, ainda, discutir modelos econômicos propostos e como a ausência de investimento do Estado impactou áreas fundamentais como saúde e educação.

Outro tópico em análise foi a própria experiência imersiva, que é característica dos podcasts que adotam um modelo narrativo, o que é possível por uma série de fatores: estruturação do roteiro, captação sonora proposta que leva o ouvinte a mergulhar no contexto apresentado em “tempo real”, bem como o próprio posicionamento adotado pelos jornalistas que conduzem o podcast, que apresentam um misto de ingenuidade e curiosidade, permitindo uma identificação imediata com o ouvinte. Dentre as questões discutidas com os demais bolsistas, saliento as possíveis relações entre o projeto de pesquisa e o projeto prático em andamento na bolsa.   

Análise de podcasts: um mergulho interseccional

*Por: Carolina Salles Carvalho

No meu projeto teórico, vou analisar podcasts que colocam as histórias de vida em primeiro plano, tendo como alicerce teórico a interseccionalidade, justamente por me permitir explorar relações de poder excludentes, a partir de diferentes marcadores (ex. raça, classe e gênero) que funcionam como categorias, muitas vezes, sobrepostas e invisíveis socialmente. Apresento brevemente dois dos podcasts aqui:

Nós, mulheres negras

O primeiro podcast foi elaborado pela produtora audiovisual Ester Dias, que também é apresentadora, e vinculado à Escola de Comunicação e Artes da USP. Em cada um dos dez episódios, uma convidada compartilha sua história de vida e o caminho (pouco conhecido) percorrido para alcançar o reconhecimento dentro de sua área de atuação. Ainda que cada trajetória seja única, temas como ancestralidade, tradições familiares, militância contra o racismo e pela inclusão, empoderamento, criatividade e resiliência, além da valorização das potencialidades individuais e das demais mulheres negras estão presentes, em maior ou menor grau. 

Rádio Batente – 1ª temporada (jornadas)

O podcast Rádio Batente é um projeto da ONG Repórter Brasil. Analiso a primeira temporada, em que é mostrado um dia na vida de um servidor público (ou trabalhador terceirizado) que atua em segmentos considerados essenciais, tendo como personagens um professor atuante na rede pública; uma assistente social que trabalha em uma casa de acolhimento para homens em situação de rua; uma dupla de profissionais da saúde (uma enfermeira e um agente comunitário de saúde), vinculados à uma Unidade Básica de Saúde; uma cobradora de ônibus e, por fim, um bombeiro. Aqui, um aspecto interessante a ser ressaltado é que o programa faz um contraponto sobre esse cotidiano antes e durante a pandemia, trazendo os reflexos da crise sanitária a partir da vivência desses trabalhadores.

Interseccionalidade e comunicação: um encontro bem-vindo

*Por: Carolina Salles Carvalho

Hoje, vou voltar à minha pesquisa teórica, inserindo a interseccionalidade no contexto da comunicação. Ainda que esse conceito/metodologia tenha nascido(a) atrelado(a) à área do direito como campo de estudo, a comunicação logo incorporou esse alicerce teórico para analisar produções midiáticas, a partir do conceito “interseccionalidade representacional”, que abarca a construção cultural e os sentidos marginalizados sobre os sujeitos, numa seara que abarca não só as produções midiáticas, mas que se fazem presente nas relações sociais.

No Brasil, a pesquisadora Fernanda Carrara é referência na área e aponta que os produtos jornalísticos, publicitários e de mídia massiva – da fotografia aos modos de interação assíncrona propostos pelas tecnologias digitais – podem reproduzir e reforçar dinâmicas de opressão interseccionais.

Essa autora propõe um quadro metodológico com o intuito de transcender o conceito e apresentar operadores analíticos e ferramentas epistemológicas para uso na nossa área, trazendo a imagem de uma roleta interseccional, em que que as varetas giram e “se iluminam” em busca de atravessamentos relevantes para o contexto de determinada pergunta de pesquisa: “(….) aqui se busca perceber como opressões interseccionais rasuram a subjetividade, os discursos, os produtos e espaços comunicacionais e podem ser fundamentais para composição dos sujeitos  e  dos  seus  comportamentos  em  interação. Nesse sentido, não se negligencia aqui o ethos de justiça social, essencial a qualquer  aplicação  do  conceito.  A interseccionalidade em Comunicação serve, portanto, como um aparato para expor injustiças representacionais e discursivas, propondo ferramentas de equidade”, ela ressalta em um artigo científico publicado em 2021.

Interseccionalidade: um novo caminho teórico para a pesquisa

*por Carolina Salles Carvalho

Nesse último mês, um novo conceito foi adicionado ao meu repertório e tem guiado as minhas leituras para o projeto teórico previsto na bolsa: interseccionalidade. O termo foi proposto pela jurista e acadêmica Kimberlé Crenshaw há cerca de 30 anos e, desde então, foi amplamente difundido ao nomear as opressões e violências invisíveis.

Esse conceito busca compreender como, num certo período, as relações sociais de poder que envolvem diferentes marcadores (raça, classe, gênero, orientação sexual, a nacionalidade, a etnia, entre outros) se manifestam como categorias que se sobrepõem e funcionam de maneira unificada, com sujeitos sofrendo diferentes dinâmicas de subjugação concomitantemente.

Em um momento inicial, procurei referências que me permitissem compreender a interseccionalidade na sua amplitude. Nessas leituras, descobri que o conceito nasceu no movimento feminista negro norteamericano, pois ficou evidente que as necessidades específicas dessas mulheres vinham sendo ignoradas pelos movimentos sociais antirracistas, feministas ou encabeçados por sindicatos atuantes em defesa da classe trabalhadora.

Em uma próxima postagem, detalho como a interseccionalidade pode ser usada como uma metodologia na área de comunicação, servindo como base  para o meu trabalho. Por fim, esse livro que ilustra a postagem – além da linda ilustração – é uma boa dica de leitura para quem quer conhecer o tema.