Por Giulia Ebohon
Em seus estudos sobre a Imagem Complexa, Josep M. Català afirma ser necessário para a prática científica superar o uso utilitário da imagem para que se possa acessar todo o potencial que ela tem a oferecer na contemporaneidade. O professor sugere que pensemos com a imagem, ao invés de recorrer a ela para ilustrar um conhecimento expresso por elementos textuais.
Mas como avançar no uso da imagem dentro da difusão científica? Como conseguir representar territórios muito específicos – como o da neuromatemática – de uma forma acessível porém não ilustrativa? Quais são os obstáculos que se colocam ao tentar representar de maneira visual um conhecimento consolidado por meio do texto?
Essas são algumas perguntas que me acompanharam durante a criação dos vídeos desenvolvidos dentro do projeto Neuromatemática Representada e que estão incorporadas no seu resultado final – ainda que em muitos casos a imagem ilustrativa ainda dê o tom das representações.
O vídeo sobre os impactos da Lesão do Plexo Braquial na Plasticidade Cerebral foi o que apresentou mais concretamente os desafios de representar uma pesquisa acadêmica seguindo os preceitos da imagem complexa de Català. A princípio, procuramos nos distanciar de desenhos literais e ilustrativos, não somente pelos riscos de retratar de forma equivocada os elementos presentes do artigo, mas justamente buscando construir uma representação com complexidade.
Nesse processo de criação do roteiro e de tentativas de representações por meio de elementos abstratos, como as linhas, encontramos uma dificuldade substancial em construir uma representação interativa e não mimética que, ao mesmo tempo, permitisse que pessoas leigas compreendessem o conteúdo do estudo. Català é categórico ao afirmar que a imagem complexa é potencialmente didática e era justamente essa vocação que gostaríamos de explorar
Ainda assim, as linhas trouxeram muitas limitações para atingir esse objetivo. Parecia necessário utilizar elementos familiares para a representação, já que muitos conceitos presentes no texto não eram conhecidos. Depois de reformular o roteiro, optamos por fazer representações com analogias, então o cérebro foi representado como uma árvore, os nervos como troncos, e assim por diante. Nessa nova tomada de decisões, algumas questões ficaram em aberto: não estaríamos priorizando a simplificação ao invés de uma representação complexa? Ou, recorrer à analogias compromete o caráter complexo da representação?
Considerando todas as reflexões que envolveram o processo de criação do vídeo, penso que os obstáculos que se colocaram nesse caminho são coerentes com as limitações que o método científico impõe às representações visuais. Ao afirmar que a prática científica deveria incorporar em seu método a imagem complexa, Català sugere a construção de uma outra visualidade científica. Portanto, embora haja na produção dos vídeos, um esforço para ultrapassar as fronteiras da imagem tradicionalmente utilizada na ciência, é intuitivo pensar que para atingir de fato sua potencialidade didática a imagem já deve estar incorporada na formulação do conhecimento, e não ser requisitada apenas na sua etapa de difusão.